domingo, 4 de fevereiro de 2018

História (s) do Remo em Cascais

O Remo como desporto de competição é um dos mais antigos e tradicionais.
Regatas entre galeras faziam parte das civilizações egípcias, gregas e romanas. O Faraó Amenophis II foi imortalizado na sua tomba remando, há também excertos de uma regata em Veneza durante o ano de 1315.
O remo de competição popularizou-se a partir do inicio de 1700 com as regatas ao longo do Tamisa, das quais a mais antiga que se conhece é a Doggett´s Coat and Badge Race que ainda toma lugar desde 1715.
A prova tem cerca de 4 milhas e passa, por baixo de onze pontes, o prémio para o vencedor é um casaco de Waterman (barqueiro do Tamisa) com um crachá de prata para o vencedor e de Bronze para os outros competidores. Foi instituída por Thomas Dogget um actor comediante irlandês que segundo a lenda foi salvo por um barqueiro. Dogget promoveu a regata até à sua morte em 1721 mas deixou instruções no seu testamento para a continuação da prova.
Originalmente a regata desenrolava-se a 1 de Agosto de cada ano para comemorar a ascensão de George I, da casa de Hannover, ao trono de Inglaterra. No crachá o Cavalo simboliza a casa de Hannover e tem a palavra “Liberdade” escrita.

Em Inglaterra nos finais do século 18 a prática do Remo foi integrada no Desporto Universitário o que proporcionou um incremento do seu exercício, principalmente depois de em 1829 ter sido estabelecida a primeira das tradicionais regatas entre Oxford e Cambridge.
Dez anos volvidos e efectuava-se a primeira das célebres regatas de Henley.
Nos Estados Unidos a regata de Yale contra Harvard teve o seu início em 1852.
O Canadiano Ned Hanlan (“The Boy In Blue”, era conhecido assim porque envergava uma camisola azul) praticou remo a nível profissional e sagrou-se Campeão do Mundo entre 1880 e 1884 em Skiff, ainda antes das Olimpíadas, a sua popularidade deu-lhe o direito a uma estátua na sua terra natal. Foi também Imortalizado no cinema por Nicolas Cage.
Há diversas histórias sobre a sua qualidade como atleta – uma delas numa regata contra o Campeão americano Morris, parou duas vezes para esperar por ele e ainda venceu por três comprimentos.
Contra o Campeão Australiano Trickett – que era muito arrogante – Hanlan durante a prova brincava com o público gritando e atirando beijinhos, remando aos zig zags e numa vez depois de passar a Meta voltou para trás colocando-se ao lado do adversário e ainda cortou a meta primeiro que ele – criando o mito do atleta que venceu a mesma prova duas vezes!
A Federation Internationale dês Societès d´Aviron (FISA), fundada em 1892, é a mais antiga de todas as Federações desportivas, possui a sua sede em Lausanne e tem mais de uma centena de membros. A Federação Portuguesa do Remo, fundada em 1920 é membro da Federação Internacional desde 1922. Dos seus clubes federados contam-se nove centenários.
No livro de José Pontes, “Quasi um século de desporto”, tomamos conhecimento que em 1849 Abel Power Dagge “teve a veleidade de organizar uma regata” de Remo, tendo sido esta portanto a primeira prova organizada em Portugal, segundo o autor.
O interesse despertado pelo «divertimento das regatas», associado ao “gosto e predilecção” da Família Real pelos passeios a remos no Tejo, deram lugar à formação de dois grupos de remadores que podem ser considerados os grandes percursores do desporto do Remo em Portugal. Abel Power Dagge, um dos fundadores da Real Associação Naval e, mais tarde, também fundador do Club Naval de Lisboa, fazia parte desse grupo. Estes dois grupos de amadores além dos barcos de quatro e seis remos remavam também em guigas de 8 remos, construídas propositadamente para esse fim pelos construtores Luís Silvério de Faria e I. C. Dangebau, que se denominavam respectivamente Lusitânia e Germânia. A guiga Lusitânia, construída em 1862, tinha (12,80 m) de comprimento e (1,83 m) de largura, tendo custado 201,600 reis,
Esta guiga segundo os nossos registos deverá ter sido a primeira embarcação de Remo desportivo construída em Portugal e por um construtor português.
Destes acalorados desafios resulta a fundação, em Lisboa no ano de 1862, do Tagus Rowing Club e do Club dos Remeiros Lusitano (sucessor do Arrow Club fundado em 1828), dois dos primeiros clubes de remo instituídos em Portugal, que a 8 de Maio de 1873 se fundiriam com o nome de Rowing Club de Lisboa e que em1891 deu origem ao Clube Naval de Lisboa. O Lusitano face aos problemas financeiros em 1870 já se tinha fundido com o Clube Naval do Tejo mantendo o seu nome.

Tipos de sócios :
Sócios Capitalistas – Jóia de 10$000 rs
Sócios Subscreventes  – não paga jóia mas não tem direito ao material do clube

Os atletas do Tagus Rowing Club eram, na sua maioria, originários da colónia Alemã existente na Capital (Pressler e Rainer Daehnhardt eram os mais conhecidos), enquanto os remadores do Lusitano eram formados por alguns portugueses nomeadamente os irmãos Pinto Basto enquadrados pelos ingleses que residiam em Lisboa e que traziam o gosto pelas actividades náuticas da velha “Albion”. Ainda em 1871 encontrámos referências a agremiações denominadas “ Club Naval, Club do Tejo, Club dos Remeiros Corsário”. Estes clubes possuíam além das duas guigas atrás descritas, as seguintes guigas: de 4 remos a Janota, a Ondina que se afundou no Tejo em 1882, a Sybilla, a Lançada, a Flirt, a Attempt e a Nereida.
De 6 remos existiam a Alice, a Corsário, a Rower, a Mizpah, a Branca (de D. Afonso), a Verde (de El Rei D. Luís) e a Preta (da Rainha), possuíam ainda os outrigger Swallow, Dark e Light, remavam também em Escaleres e Catraios de 4 remos e nas Canoas dos Yachts de um só homem. Os britânicos Hickie e Mittchell já remavam nos seus próprios Skiffs. Salientamos também as célebres Guigas Ophélia de El Rei D. Carlos e a Vega de Sua Majestade a Rainha, com grandes despiques entre sócioas da Real Associação Naval e do Real Ginásio.
Apesar do começo da prática e regulamentação do Remo ter acontecido em Lisboa e Paço de Arcos foi em Cascais que se dinamizou e conheceu um maior incremento.
Tendo o Rei D. Luís escolhido Cascais para passar a época balnear em 1870 trouxe consigo a prática do Remo e o divertimento das Regatas. A imprensa da época regista que a primeira regata de Remo em Cascais terá sido organizada logo em 1872 mas a partir dessa data as Regatas de Cascais tornaram-se um hábito organizadas primeiro pela Real Associação Naval e mais tarde também pelo Real Clube Naval de Lisboa que em 1902 abriu até uma Secção na sua bela Baía.
Nos Jornais da época o anúncio dos eventos era constante e os Vapores Lisbonenses criavam carreiras especiais para os entusiastas assistirem às provas. Também ainda existem, felizmente, inúmeros pósteres das regatas de Cascais onde nos podemos deliciar com a descrição pormenorizada das provas, dos remadores e remadoras e as suas toilettes, as actividades anexas tais como o pau ensebado com ou sem porco no cesto, a caça ao pato e os jantares com baile para a entrega dos prémios.
Desde 1872 até 1910 a Baía de Cascais foi palco anualmente de inúmeras histórias e desafios cheios de paixão clubística alguns deles desconhecidos e muito curiosos.
Até 1880 a Regata de Cascais realizava-se sempre em Setembro. contudo, em 1881 as provas realizaram-se no dia 2 de Outubro para no ano seguinte voltarem a Setembro e irem alternando entre estes dois meses até ao fim da Monarquia, quando Cascais deixou de ter a sua Regata anual.
Escolhemos algumas histórias e acontecimentos que demonstram a relevância de Cascais no desenvolvimento da prática do Remo e não só.
A título de exemplo em 1878 serviu para estrear o Vapor Aurora que levou os vários convivas à Vila. A viagem demorou uma hora e trinta minutos entre Lisboa e Cascais e mais dez minutos na volta, lê-se no Diário Ilustrado que era “uma excelente embarcação com muitas comodidades pertencente à frota da Aldeia Galega propriedade do sr. França Netto”.
A Baía ficava inundada de pessoas em terra e dentro de água. Nos Vapores seguia desde Lisboa uma Banda que tocava para os convidados, parando até em Paço de Arcos para receber mais passageiros quando a lotação não ia completa.
Em 1881, Segundo a história por altura das regatas de Cascais desse ano compareceram à prova alguns atletas do Clube Fluvial Portuense que trouxeram o Escaler Brito Capelo para competir contra o Escaler do Rei. Após as regatas efectuou-se, como costume, um baile na Cidadela para homenagear os concorrentes e distribuir os prémios. Sua Majestade El Rei D. Luiz, que presidia ao baile, notou a falta “dos rapazes do Porto”.
No dia seguinte D. Luiz enviou os seus ajudantes de campo ao hotel onde estavam alojados os dirigentes do Fluvial para trazê-los ao Palácio. Na presença de Sua Majestade os dirigentes ouviram as suas desculpas e informou-os que o clube iria ser distinguido com o título de Real sem pagar os respectivos direitos.
D. Luiz – o Rei Marinheiro e D. Maria Pia assistiam sempre às Regatas normalmente passeando numa embarcação à Vela ou a Vapor. Não temos conhecimento que remasse no entanto o seu Filho D. Carlos e o neto D. Luiz Filipe deixaram-se converter à saudável prática do Remo.
No dia 29 de Setembro de 1883 realizou-se uma regata de Guigas com crianças entre os 7 e 12 anos que disputavam um prémio oferecido pela Rainha, tendo a prova sido adiada para a Rainha poder estar presente. A partir desta data os mais novos começaram a integrar as regatas de Remo com frequência.
Nessa prova os Remadores foram Francisco e Sebastião Gil de Herédia, João Pinto Leite e o voga Francisco Figueira da Câmara, na Guiga Naiade e na Janota remaram Luis Trigoso, António Gil de Herédia, Manuel da Cunha e Menezes e voga foi José Pinto Leite.
Na regata de 27 de Setembro de 1885 os exploradores Capelo e Ivens participaram nas provas timonando cada um uma Guiga nas regatas de Remo.
Entre 1884 e 1885, Capelo e Ivens realizaram uma nova exploração em África, primeiro entre a costa e o planalto de Huíla e depois através do interior até Quelimane, em Moçambique. Continuaram, então, os seus estudos hidrográficos, efectuando registos geográfico-naturais mas, também, de carácter etnográfico e linguístico. Estabeleceram assim a tão desejada ligação por terra entre as costas de Angola e de Moçambique. Partiram para essa missão a 6 de Janeiro de 1884 e regressaram no dia 20 de Setembro de 1885 tendo sido recebidos triunfalmente pelo rei D. Luís.    
Em 1888 a tradicional regata de Cascais realizou-se a 24 de Setembro e à noite houve um baile para entrega dos prémios que contou com a presença do Príncipe Regente D. Carlos e de D. Amélia tendo sido esta a primeira prova presidida pelo futuro Monarca.
Nesta regata houve uma prova entre senhoras da sociedade em que remaram as senhoras D. Margarida e Marianna Salema, Leonor Atalaya, Piedade Asseca, as filhas do Conde de Sobral, Isabel Ornellas e Gabriela Ferreira Pinto Basto, podemos afirmar que o evento contribuiu para o início da prática mais regular do Remo feminino tendo inclusive em 1901 D. Afonso timonado uma guiga de remadoras nas provas de Cascais.
Na regata de Cascais de 22 de Setembro de 1889 a Real Associação Naval promove as Regatas de Remo em linha na distância de uma Milha, imitando o que já se fazia noutros países. De notar que D. Afonso presidiu a esta Regata.
Em 1896, D. Carlos e D. Amélia passearam-se num escaler de 8 remos durante a Regata de Cascais organizada pela Real Associação Naval, na qual competiram nove provas de Remo e seis de Vela. Aquela regata, destacou-se pela grande adesão do público que acorreu à margem para assistir àquele que foi um dos maiores eventos desportivos realizados em Portugal. Nesse dia a vila recebeu seis mil visitantes.
Para comemorar os aniversários do Rei D. Carlos e da Rainha Dª Amélia, o Real Club Naval de Lisboa decide realizar as Regatas de Cascais em 29 de Setembro de 1901, a que se seguiram nos anos seguintes, na mesma data, regatas idênticas que se celebrizaram pelo seu esplendor. A imprensa da época retracta da seguinte forma esta prova:
- “ (...) A natureza, querendo hontem galardoar os esforços de um punhado de rapazes que n´esta terra ainda se interessam pelo sport náutico, vestiu-se de gala e deu-lhes tudo o que era necessário para esse fim: vento fresco para as corridas de vela; brisa suave para os espectadores encalmados; lux difusa para os amadores photograficos – que eram bastantes, – e mar de leite para as regatas de remos. Isto posto, vamos ao resultado d´essa bela festa. Sua Magestade El-Rei assistiu a toda a regata, de bordo do Iate Lya, pertencente a sua augusta esposa. O lindo barco arvorava o distinctivo do Real Club Naval de Lisboa. (...)”.
De certa maneira o Real Clube Naval substituía assim a Real Associação Naval na organização anual da regata de Cascais.
Em 1906 por altura da disputa da Taça Lisboa e após vários artigos publicados nos jornais por Alberto Totta do CNL e Carlos Sá Pereira da ANL sobre os atletas que mudavam de clube para terem melhores condições de treino e embarcações mais modernas e leves – os trânsfugas -, ambos consideraram-se ofendidos e a contenda foi mesmo decidida em duelo à espada. Realizou-se no dia 15 de Julho junto do Farol da Guia, havendo duas testemunhas para cada esgrimista e a presença de dois médicos. O Mestre António Martins do Ginásio Clube Português foi nomeado director do combate. O primeiro assalto foi interrompido porque as armas tocaram no chão e tiveram que ser desinfectadas.
Ao terceiro assalto porque Alberto Totta tinha sido ferido no cotovelo, pararam o combate e verificarem que Sá Pereira também já tinha um ferimento no antebraço, os médicos decidiram então que o combate não podia continuar. Uma das regras era que o combate terminava com o derramamento de sangue.
Em 1907 nas Regatas em honra do Príncipe D. Luiz Filipe na qual se disputaram provas de remo, vela e barcos automóveis pela primeira vez em Portugal, escreveu-se mais uma página de ouro do Remo em Cascais. Depois de várias derrotas e humilhações dos remadores do Clube Naval e da Associação Naval contra as tripulações invencíveis dos ingleses do OPorto Boat Club, o Comodoro Bucknall do CNL, agarrou no seu filho Henry e meia dúzia de atletas do CNL e levou-os para estágio para uma propriedade que possuía em Sarilhos. Dos treinos bastante puxados apenas resistiram o seu filho e mais três jovens que desafiaram e venceram os ingleses nestas regatas de Cascais, era a primeira vez que alguém os vencia. Deve ter sido, também, o primeiro estágio de “competição” efectuado no nosso Pais.
Logo a seguir uma tripulação da Real Associação Naval consegue um feito idêntico e acaba-se o mito dos ingleses do Porto.
O interessante é que Henry Bucknall estudava em Oxford e tinha vencido a Regata Oxford – Cambridge em 1905. Na tripulação do Porto estava também Johnstone um seu rival de Cambridge que tinha perdido contra Bucknall naquele ano de1905 mas vencido as regatas de 1906 e  de 1907. Outra nota importante é que estes dois atletas representaram no ano seguinte a Inglaterra nos Jogos Olímpicos de 1908 em Londres e venceram a medalha de Ouro na prova de oito.
A proclamação da República teve repercussões nos Desportos Náuticos consequentemente, os clubes apadrinhados pela Família Real sofreram um duro revés. Foi necessário mudar de nome e de pavilhão. Porém, lentamente, conseguem reagir reformando os respectivos estatutos, ao mesmo tempo que diversificam a sua acção, tornando-se mais eclécticos, criando secções com diferentes modalidades desportivas, a par de uma intensa actividade cultural e social, patente na organização de festivais náuticos e na promoção de passeios à vela e a remos que movimentam grande número de sócios, respectivas famílias e despertam o interesse da sociedade da época. Sem o mecenato da Família Real e da Nobreza em geral foi necessário conseguir acesso a outras fontes de financiamento por isso os clubes de Remo procuraram outras paragens e aproveitaram o apoio das localidades de Vila Franca, Seixal, Alcochete, Azambuja, e até mesmo Sines organizando provas e passeios nesses locais. Por este facto só em 1912 é que temos conhecimento de regatas em Cascais, apesar do CNL ainda possuir a sua secção na Baía. As provas seguintes realizaram-se apenas em 1916 nas quais a tripulação vencedora era composta por remadores desta secção do Clube Naval.
O ano de 1916 fica também marcado, através de uma iniciativa de Charles Bleck, pelas reuniões entre o Ministério da Guerra e os clubes Náuticos de Lisboa para cedência das embarcações dos sócios da ANL e do CNL para vigilância dos portos. Os seus sócios foram equiparados ficando com graduações militares.
Com a I Guerra Mundial muitos atletas foram mobilizados e alguns acabaram mesmo por perecer em terras longínquas, os clubes vegetavam , havia falta de mão-de-obra. O Remo outrora Rei, tinha que rivalizar com outros desportos emergentes tais como a Natação, o Polo Aquático e, principalmente, o Futebol que começava a roubar adeptos e paixão ao nosso desporto: até a Taça Lisboa não se realizou em 1917 por falta de remadores disponíveis.
Em 1925 a FISA, pretendendo homenagear o Remo português, convidou Portugal para organizar os campeonatos da Europa de 1926. para o efeito foi nomeado o Presidente da Assembleia Geral da FPR, Álvaro Lino Franco, como Vice-Presidente da Federação Internacional de Remo. Pedro Peters, na altura o Presidente da Comissão Dirigente, deu conhecimento na AG de 5 de Dezembro de 1925 que o governo de Portugal se tinha comprometido com um subsídio de 500 000$00 para a organização dos Campeonatos da Europa e também para a dragagem do rio Mondego na Figueira da Foz, local onde se desenrolaria a prova. O seu não cumprimento pelo governo motivou a vergonha da FPR, a demissão de Álvaro Franco da FISA e o castigo a Portugal, tendo sido retirado o apoio da Federação Internacional ao transporte das embarcações para os Campeonatos da Europa. Tal resultou na ausência forçada do nosso país durante largos anos às provas internacionais!
Só a 18 de Setembro de 1927 se voltaram novamente a realizar regatas de Remo na Baía, desta feita entre o Clube Naval e o Vacum Sports Club, integradas na Festa Náutica organizada pelo Grupo Náutico Português (clube formado a partir de alguns entusiastas da Vela sócios descontentes da Associação e do Clube Naval). O Chefe de estado e o Governo assistiram ao desenrolar destas provas. O Programa incluía uma Corrida de Hidroaviões, Regatas de Vela, Provas de Natação e Regatas de Remo. Durante as festividades, realizou-se uma bênção de embarcações, fogo-de-artifício e os prémios foram distribuídos durante o Baile no Casino Internacional do Monte Estoril.
As provas serviram para a reabertura oficial da Secção de Cascais do Clube Naval de Lisboa que receberia, no dia 16 do mês seguinte, uma tripulação de três Dinamarqueses que seguiam numa Guiga a Remos a caminho da India, tendo demorado quatro horas e meia entre a Ericeira a Cascais.  
Depois em 1929 e no ano seguinte ainda se realizaram regatas de remo na Baía, mas só em meados dos anos 30 o Remo seria novamente cabeça de cartaz em Cascais com a organização da I Semana Náutica Internacional do Estoril que se desenrolou entre os dias 23 e 30 de Agosto de 1936.
Existiram provas de Remo, Vela, Motonáutica e Natação, mas a Jóia da coroa foi mesmo o Remo cujo programa incluía os dias de França, do Porto, da Bélgica, da Figueira da Foz, da Inglaterra e, para finalizar, o dia de Portuga,l onde se disputou a extraordinária Taça Portugal.
Estiveram presentes atletas de França, Bélgica e Inglaterra. Os portugueses vieram de Lisboa, Barreiro, Porto e Figueira da Foz. A par das Regatas Internacionais da Figueira da Foz, foram as manifestações desportivas mais importantes da década,
No primeiro dia de provas o Presidente da República, General Carmona, esteve presente e inclusivamente deu a partida para a disputa da Taça de França.
Os clubes estrangeiros dominaram todos os eventos em que participaram mas no último dia de provas Cascais volta a ficar na história do remo com a disputa do primeiro Campeonato Nacional de Outriggers de oito vencido pelo Clube organizador – Clube Naval de Lisboa - em que participaram também as equipas da Associação Naval, do Sport Clube do Porto, do Clube Fluvial Portuense e da Associação Naval 1º de Maio da Figueira da Foz.
Embora a Semana Náutica previsse a continuidade anual, a saída da Presidência do Clube Naval do Eng. Abreu Nunes, empresário Cascalense fundador da Junta de Turismo do Estoril e Director da Sociedade Propaganda de Cascais, inviabilizou os apoios necessários para a organização da prova no ano seguinte.
Acredito que em resultado desta sinergia, a maioria dos sócios do Clube Naval da secção de Cascais juntaram-se ao movimento para a Fundação do Clube Naval de Cascais em 1938 ainda como Clube Náutico Afonso Sanches.       
Alguns destes membros ainda mantinham o gosto pela arte de remar mas a Vela foi sempre o grande desígnio do Clube Naval de Cascais que mesmo assim se filiou na Federação em 1943 com cerca de 20 praticantes inscritos e duas embarcações na sua frota. O objectivo da secção era a prática salutar do remo e o passeio na Baía, porém distinguimos a tripulação composta por José Antunes Pinto, João Soares, José Gonçalves, João Galamas e Manuel Marques como timoneiro que representando o Clube Naval de Cascais no Campeonato de Principiantes em 1945 tiveram uma excelente participação.
Nascido no ano seguinte ao Clube Naval, em 1939, a partir da Sociedade Estoril Plage mas mais para a prática da Natação e do Futebol o Grupo Desportivo Estoril Praia, inscreveu-se na Federação em 1945 para começar logo a brilhar no desporto do Remo. Com 45 praticantes federados contava com 3 barcos na sua flotilha. Um deles de construção Suiça da empresa Stanfli, um Shell 4 de grande qualidade que mais nenhum clube em Portugal possuía.
Logo em 1945, 46 e 47 o clube da Linha de Cascais conseguia excelentes resultados para a  região pois verificámos que nestes anos o Estoril foi Campeão Regional de Principiantes e Campeão Nacional de Juniores e Seniores com as seguintes tripulações:

Campeões Regionais de Principiantes Yolle de 1945: Manuel Saldanha, Manuel Matias, Emílio Sotivy, Fernando Bravo e o timoneiro Orlando Basso

Campeões Regionais de Juniores Yolle 1945: Manuel Saldanha, Manuel Matias, Mário Lopes da Costa, Mossod Bilton e Orlando Basso a timonar.

Campeões Nacionais e Regionais Juniores e Seniores Yolle 1946: Fernando Nunes, Emílio Sotivy, Mário Lopes da Costa, Manuel Matias e timoneiro Orlando Basso
O Campeonato Nacional de Yolle de 1946 foi mesmo uma organização do Grupo Desportivo Estoril-Praia.
 
Ainda em 1947 a tripulação do Estoril-Praia composta por: Manuel Saldanha, Alfredo Morgado, Mário da Costa, Manuel Matias e o timoneiro Orlando Basso tiveram mesmo o atrevimento de competirem na Regata da Taça Lisboa em Shell 4, nesta altura já dominada pelos clubes de Aveiro, Porto e Caminha e até abandonada a sua disputa pelos clubes de Lisboa. Em 1950 Manuel Matias representou ainda os canarinhos competindo em skiff nos Campeonatos Peninsulares de Remo.
A nível regional os anos de 1940 e 1950 foram muito severos para os clubes de Lisboa que viram o Remo de competição desviar-se para Norte onde as águas eram mais propícias a remar com embarcações de muito frágil construção. A par disso o desenvolvimento das escolas de remo da Mocidade Portuguesa, com os seus Centros de Remo esvaziou os clubes que se viram privados de financiamentos e de atletas o que motivou a sua estagnação.  
Lemos então no relatório da Federação de 1953 que o “Grupo Desportivo Estoril-Praia, que durante alguns anos se fez representar em provas oficiais, animando as disputas de regatas na zona a que pertencia, por circunstâncias certamente alheias à sua vontade, abrandou nos últimos anos o entusiasmo que vinha dando à modalidade, deixando por completo na época transacta de participar em provas, acabando por solicitar a sua desfiliação em 18 de Juno de 1953 (…) e líamos também:
Mais uma desfiliação nos foi solicitada, em 11 de Março, de 1953 e igualmente deferida: a do Clube Naval de Cascais, um dos mais antigos filiados da Federação e que desde há muito praticamente tinha paralisado a sua secção de Remo.

Vimos assim desaparecer o Remo na linha de Cascais, que por pouco não atingia um século de existência.


quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

História do Remo em Portugal - 1828 - 2018 - 190 Anos de História

 

 História do Remo em Portugal


190 ANOS DE HISTÓRIA 

Autor: Carlos Manuel Gomes Henriques
A prática do Remo em Portugal, enquanto desporto organizado, terá começado em 1828 com a fundação do Arrow Club por Abel Power Dagge, os irmãos Pinto Basto e alguns elementos da colónia britânica residente na metrópole, segundo documentos inéditos que nos foram recentemente facultados pela família Dagge.
Do referido acervo documental constavam as actas de fundação de várias associações náuticas, a sua correspondência e deliberações das Assembleias Gerais, assim como memórias de Abel Power Dagge, membro fundador da Real Associação Naval e do Clube Naval de Lisboa, quiçá o primeiro desportista náutico a existir em Portugal.
Segundo José Pontes, no seu livro “Quasi um século de desporto”, a primeira regata de desportistas amadores oficialmente realizada em Portugal foi de Remo, corria o ano de 1849, e foi promovida por Abel Power Dagge.
São célebres, pelo menos a partir de 1852, por ocasião dos festejos anuais de Paço de Arcos, as Regatas em barcos à vela e a remos, promovidas pelo Conde das Alcáçovas, por um grupo de aristocratas, alguns deles ligados à Casa Real, e por elementos da colónia inglesa. A regata de 1853, foi presidida pelo infante D. Luiz que se fez conduzir a bordo do vapor da Marinha de Guerra Portuguesa Conde de Tojal. Aproveitando a estadia do barco de guerra inglês Odin, fundeado na Baia de Paço Arcos, realizou-se uma corrida de remos entre marinheiros portugueses e ingleses. Do programa de 1854, constava a participação de duas guigas de 4 remos, tripuladas por “curiosos”.
Na sequência destes eventos, foi fundada em 1855 a Real Associação Naval, a mais antiga agremiação desportiva da Península Ibérica e uma das mais antigas do mundo.
O interesse despertado pelo «divertimento das regatas», associado ao “gosto e predilecção” da Família Real pelos passeios a remos no Tejo, deram lugar em 1861, à formação de dois grupos de remadores. O primeiro grupo era composto na sua maioria por ingleses mesclado dealguns portugueses e, o segundo, era constituído exclusivamente por indivíduos da colónia alemã. Estes dois grupos de amadores remavam também em guigas de 8 remos, construídas propositadamente para esse fim pelos construtores Luís Silvério de Faria e I. C. Dangebau, que se denominavam respectivamente Lusitânia e Germânia. A guiga Lusitânia, construída em 1862, tinha 12,80 m de comprimento e 1,83 m de largura, tendo custado 201,600 reis. Segundo os nossos registos, esta guiga deverá ter sido a primeira embarcação desportiva de remo construída em Portugal e por um mestre português. Destes acalorados desafios resulta
então a fundação, em Lisboa, do Tagus Rowing Club e do Club dos Remeiros Lusitano, dois dos primeiros clubes de remo instituídos em Portugal.
Numa época em que o remo desportivo era a modalidade de eleição praticada pela elite inglesa residente na região norte é fundado, em 20 de Junho de 1866 o Oporto Boat Club, em 1868 o Clube Naval Portuense e em 1876, o Club Fluvial Portuense, fundado num antigo café da Ribeira, o Café de Santo Amaro, resultante do entusiasmo de um grupo de portuenses pelos desportos náuticos. Este último, ainda em actividade trata-se da colectividade desportiva mais antiga do Norte de Portugal. O Oporto Boat Club era apenas constituído por ingleses, possuindo tripulações de muita qualidade e na altura consideradas invencíveis. Segundo as nossas consultas a sua primeira derrota foi em 1907, sobre a qual tratamos mais à frente. Na segunda metade do Séc. XIX, a Figueira da Foz era o local de ferias durante os meses de Agosto a Outubro das elites portuguesas, aparecendo a veranear também alguns espanhóis. Neste contexto formam-se na Figueira a Associação Naval Figueirense, com estatutos de 1866 e o Clube Moderno cujos estatutos datam de 1881. A 14 de Outubro de 1880 funda-se em Setúbal a Associação Fluvial Setubalense, mostrando-nos que o gosto pelos desportos náuticos em Setúbal também é muito antigo. Em 1884, ainda por iniciativa de Abel Power Dagge, foi criado o primeiro Campeonato que se realizou em Portugal. As regatas foram efectuadas no Tejo durante três anos seguidos, em skiff, como competidores estiveram os ingleses Hickei e Mitchel e o futuro Barão de Almeirim, Manuel Braamcamp, que venceu os ingleses e conquistou o Titulo de Campeão do Tejo, ganhando uma medalha de ouro que usava com orgulho na corrente do seu relógio. É durante este ano, 1884, que as regatas passam a ser sempre em linha recta na distância de uma milha aproximadamente. Anteriormente eram normalmente efectuadas entre duas bóias com ida e volta. Em 27 de Janeiro de 1892, são aprovados os estatutos do Club Naval de Lisboa, já em actividade desde Novembro de 1891. Com o aparecimento do Clube Naval de Lisboa os desportos náuticos e o Remo em particular, ganham um notável incremento porque o recém-criado Clube imprime um grande dinamismo na prática desportiva. No dia 1 de Maio de 1893 é fundada na Figueira da Foz, a Associação Naval 1º de Maio, a primeira colectividade de cariz eminentemente popular instituída em Portugal, nascendo segundo Maria Alice Guimarães, como continuidade da Associação Naval Figueirense. Nesse mesmo ano, a Real Associação Naval e o Real Gimnásium Club Português criam as suas secções de Remo. Na cidade de Aveiro, em 1894, o Ginásio Clube Aveirense organiza uma secção de Remo, que mais tarde viria a chamar-se Clube Mário Duarte. Logo a seguir a 1 de Janeiro de 1895 é fundado o Ginásio Clube Figueirense, como Clube Gimnastico Velocipedico Figueirense, porventura a continuação do Clube Ginástico, fundado anteriormente nesta cidade em 1889. Em 1896, D. Carlos e D. Amélia passearam-se num escaler de 8 remos durante a Regata de Cascais organizada pela Real Associação Naval na qual competiram nove provas de Remo e seis de Vela. Aquela regata, destacou-se pela grande adesão do público que acorreu à margem para assistir àquele que foi um dos maiores eventos desportivos realizados em Portugal. Nesse dia a vila recebeu seis mil visitantes. Para comemorar os aniversários do Rei D. Carlos e da Rainha Dª Amélia, o Real Club Naval de Lisboa decide realizar as Regatas de Cascais em 29 de Setembro de 1901, a que se seguiram nos anos seguintes, na mesma data, regatas idênticas que se celebrizaram pelo seu esplendor. Podemos ler no Livro de actas da Comissão de Regatas do Real Club Naval de Lisboa que nesta regata existiram provas disputadas por senhoras da sociedade constituindo, provavelmente, uma das primeiras manifestações de desporto feminino em Portugal. Aproveitando o apoio e beneplácito do seu Comodoro, Sua Majestade El Rei D. Carlos, o Clube Naval de Lisboa cresceu e difundiu os Desportos Náuticos pelo País abrindo secções e Postos Náuticos em Azambuja, Cascais, Trafaria, Luanda, Lourenço Marques, Portimão, Lagos, Pedrouços e Funchal. Estas delegações evoluíram mais tarde para os actuais clubes existentes nestas localidades. No alvorecer do século XX despertava grande interesse as regatas em guigas de quatro e de seis remos. No entanto, a falta de uniformidade nas características das embarcações, a que se juntava uma deficiente regulamentação, suscitavam frequentes conflitos que, em alguns casos, conduziam à quebra de relações entre as principais agremiações náuticas. Em 1898, no Centenário da Índia devido a um empate numa regata de Remo os atletas da Real Associação Naval e do Real Clube Naval envolveram-se numa zaragata que destruiu a Cervejaria Jansen, no Cais do Sodré, com prejuízos no valor de 400.000 réis (O Infante D. Afonso quis inteirar-se pessoalmente do ocorrido) e em 1906 houve mesmo um duelo à espada, em Cascais, entre Alberto Totta do CNL e Carlos Sá Pereira da ANL, devido a uma regata da Taça Lisboa.
A necessidade de regulamentação das regatas de Remo mereceu alguma reflexão no “Congresso Marítimo Nacional”, promovido pela Liga Naval Portuguesa, em 1902, sem que contudo daí resultasse alguma alteração tendo, no entanto, sido aprovada a tese “Impulsionamento do rowing nacional. Sua utilização possível na educação física do povo português”, da autoria de Joaquim Leotte dirigente do Clube Naval de Lisboa e o grande responsável pela instituição da Taça Lisboa a prova mais importante do Remo Português.
É neste contexto que em 1904, a pedido de Joaquim Leotte, a Associação Naval de Lisboa, o Clube Naval de Lisboa, o Clube de Aspirantes de Marinha e o extinto Clube Naval Madeirense instituíram a Taça Lisboa em Remo como Campeonato de Portugal, Taça ainda hoje em competição, constituindo a prova desportiva mais antiga do nosso país. Assim nasceu a Taça Lisboa e a Convenção que se lhe seguiu assinada pelos mesmos clubes, a 20 de Abril de 1904. A primeira regata da taça foi realizada a 29 de Maio, ao longo da muralha da Junqueira, entre as docas de Santo Amaro e do Bom Sucesso. A Convenção, o primeiro regulamento de regatas de Remo, estabelece as bases para a regulamentação “das corridas de embarcações de Remo e tinha como fim último promover “o desenvolvimento do rowing portuguez”, a ela se devendo orápido desenvolvimento que o Remo atingiu nos anos que se lhe seguiram.
Nos Jogos Olímpicos de 1908, Henry Bucknall, o voga da tripulação de Shell 8 de Inglaterra, que venceu a medalha de ouro, foi remador do Clube Naval de Lisboa. Filho do seu Comodoro Bucknall, tendo associado a si e a seu pai uma história de desforra entre o CNL e uns ingleses do Porto, como já tínhamos descrito anteriormente. Em 1907 depois de várias derrotas e humilhações dos remadores portugueses contra as tripulações invencíveis dos ingleses do Porto, o Comodoro Bucknall, agarrou no seu filho e meia dúzia de atletas do CNL e levou-os para estágio para uma propriedade que possuía em Sarilhos. Dos treinos bastante puxados apenas resistiram o seu filho e mais três jovens que desafiaram e venceram os ingleses numa regata em Cascais, era a primeira vez que alguém lhes ganhava. Deverá ter sido, também, o primeiro estágio de “competição” efectuado no nosso Pais. Logo a seguir uma tripulação da Real Associação Naval consegue um feito idêntico e acaba-se o mito dos ingleses do Porto. Em 1908 o Dr. António Rainha oferece ao Ginásio Figueirense a Taça Mondego para ser disputada em inriggers de 4 remos na distância de uma milha, por todas as tripulações nacionais existentes, sempre no rio Mondego. Em 1911 Francisco Bento Pinto oferece à Associação Naval 1º de Maio a Taça Alzira, disputada no mesmo tipo de embarcação mas como Campeonato Regional. Segundo o grande dirigente figueirense Severo Biscaia: “A disputa da Taça Alzira constituía um grande alvoroço e assunto de todas as conversas, atiravam-se pedras de cima da ponte à passagem das embarcações, e ouviam-se muitos insultos mútuos pois os do Ginásio eram finitos que só comiam bifes e bebiam água das pedras e os da Naval uma data de carroceiros que se alimentavam a vinho tinto e sardinha.” A proclamação da República teve repercussões nos Desportos Náuticos, sobretudo na Vela com o desaparecimento dos Yachts Reais. Consequentemente, os clubes apadrinhados pela Família Real sofreram um duro revés, foi necessário mudar de nome e de pavilhão. Porém, lentamente, conseguem reagir reformando os respectivos estatutos, ao mesmo tempo diversificam a sua acção, tornando-se mais eclécticos, criando secções com diferentes modalidades desportivas, a par de uma intensa actividade cultural e social, patente na organização de festivais náuticos e na promoção de passeios à vela e a remos que movimentam grande número de sócios, respectivas famílias e despertam o interesse da sociedade da época. Paralelamente, promovem a construção em Portugal dos primeiros barcos a remos de corrida, nos estaleiros privativos da Associação e do Clube Naval. Decorria o ano de 1910 quando se funda em Viana do Castelo o Viana Taurino Club o primeiro desta cidade e que iria começar e dinamizar o desporto do Remo no rio Lima, contudo já em 1906 no Jornal Aurora do Lima podemos ler que: “nas festas da Senhora da Agonia realizou-se uma regata de três escaleres a 4 remos”.
Ainda neste ano Armando Soares Franco, Presidente da ANL oferece uma Taça com o seu nome para ser disputada pelas Escolas Superiores de Lisboa e Mauperrin Santos, sócio do Clube Naval, Director da Escola Académica e Presidente da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional (futuro COP) oferece também uma Taça com o seu nome que seria disputada pelas Escolas Secundarias e Liceus da Capital, começando então uma nova era no desporto escolar. As regatas eram organizadas pelo CNL e pela ANL com o patrocínio da CML. Alguns anos mais tarde a Federação Portuguesa do Remo continuaria a utilizar essas Taças com o mesmo propósito, nascendo as regatas escolares que se iriam disputar até aos anos sessenta em Lisboa, no Porto e na Figueira.
Nas regatas efectuadas nesse ano, a 3 de Outubro pelo Viana Taurino, em Viana do Castelo, para competição da Taça com o nome do clube, origina-se uma grande celeuma porque um dos competidores, o Clube Fluvial Portuense, coloca slides no escaler Porto que vence a regata mas depois é desclassificado, pelos árbitros. Este episódio fez correr muita tinta nos jornais da época. Na regata participaram clubes de Viana, Esposende, Vila do Conde e Porto. Ainda na mesma regata comentou-se o equipamento dos atletas, se devia ser calça ou calções e lê-se também no Jornal Sport de Lisboa “ (…) A garrafa de excitante despejada à partida pela tripulação do Viana Taurino Clube, a que se refere o Sr. Silveira, não passa de uma simples e inofensiva garrafa de água do Vidago (…).
O ano de 1919 é marcado pela realização, na Figueira da Foz, do Campeonato Internacional de Remo para comemorar a vitória das forças aliadas da Primeira Grande Guerra, onde seria disputada a Taça da Vitória que a par da Taça Lisboa seria a prova mais importante do remo português. Podiam concorrer a este campeonato todas as colectividades desportivas nacionais e estrangeiras legalmente constituídas.
A Taça da Vitória foi instituída pela Associação Naval 1º de Maio e adquirida por subscrição entre as Nações Aliadas da Grande Guerra e destinava-se a ser disputada em outriggers de oito remos. As Nações que subscreveram a Taça foram Portugal, Brasil, América do Norte, Inglaterra, França, Itália, Bélgica, Servia, China, Japão, Grécia, Sião, Roménia, Honduras, Libéria, Panamá, Nicarágua e Peru. Também em 1919 formou-se a primeira Selecção Nacional de remo para os Jogos Interaliados em Paris.
Dado que não se realizaram os Jogos Olímpicos, as Nações Aliadas organizaram estas provas, em vários desportos, para moralizar os soldados e aproximar os países amigos.
Um misto da ANL e do CNL, representou Portugal e remou em Shell 8 e Shell 4.
No dia 19 de Fevereiro de 1920 na Sala da Associação Naval de Lisboa reúne-se a Comissão Organizadora e Iniciadora da Federação Nacional de Remo, com a participação dos clubes de Lisboa e da Figueira (do Porto não houve resposta à solicitação mesmo depois de serem enviados dois ofícios), marcando então uma reunião de delegados oficiais para o dia 10 de Março, sendo contudo no Congresso Náutico Nacional realizado no Porto, em Abril de 1920, por iniciativa do Clube Fluvial Portuense com o apoio do Sport Clube do Porto, que a Associação Naval de Lisboa e o Clube Naval de Lisboa apresentaram as bases, da Federação Nacional de Remo passando, a partir dessa data, a existir uma entidade reguladora do desporto do Remo em Portugal. Nesse mesmo congresso são também instituídos e regulamentados os Campeonatos Nacionais de Remo
Aos 29 dias do mês de Agosto de 1921 reuniram-se na Sala da Associação Naval, os clubes: Associação Naval de Lisboa, Clube Naval de Lisboa, Associação Naval 1º Maio, Ginásio Clube Figueirense, Clube Naval Setubalense e Sport Algés e Dafundo tendo procedido à eleição da primeira Comissão Dirigente da Federação Portuguesa do Remo que ficou assim constituída:
Presidente – Dr. Carneiro Prego
Secretario – Nuno Vasconcelos
Tesoureiro – José Reis
Vogais – Augusto Salgado e Carlos Botelho Moniz
Em 1922 a Federação Portuguesa do Remo inscreve-se na FISA, o que lhe permite fazer-se representar nos campeonatos da Europa em Como, Itália, em 1923, com uma tripulação de Shell de dois com timoneiro do Sport Clube do Porto e, em 1926, em Lucerna, Suíça, com uma tripulação do Clube Naval de Lisboa que participa nas provas de quatro com e sem timoneiro.
Os Campeonatos Nacionais de Remo de 1931, organizados pelo Clube Fluvial Portuense e pelo Sport Clube do Porto, realizados no Porto, entre o Bicalho e a Alfândega, destacaram-se pela forte adesão do público que acorreu a ambas as margens para assistir àquele que foi o maior evento desportivo realizado em Portugal até aquela data, tendo-se computado uma assistência superior a 50 mil pessoas.
Nesse mesmo ano, as Regatas Internacionais da Figueira da Foz com provas Natação, Remo e Vela tiveram igualmente grande adesão por parte do público, contabilizando-se cerca de 25 mil assistentes.
A realização, a partir da década de trinta, dos Campeonatos Escolares de Remo, organizados pela Federação Portuguesa de Remo e a criação a nível estatal dos Centros de Remo da Mocidade Portuguesa, movimentaram um maior número de praticantes, facto que se reflecte no fomento da modalidade.
Nos anos quarenta organizaram-se várias e diferentes provas destacando em 1944 o I Campeonato de Remo para empregados das Companhias de Seguros, Torneios da Mocidade, o Campeonato Peninsular em 42,43 e 45, e um Campeonato Nacional Universitário em 1945. Em 1947 a FPR organizou a 1ª Conferência Nacional de Remo, publicando também um anuário. No ano de 1948 Portugal inicia a sua participação nos Jogos Olímpicos, aproveitando as excelentes performances das célebres tripulações do S. C. Caminhense e do Galitos de Aveiro. Em 1952,1960,1972,1992,1996 e recentemente em 2008 volta a marcar presença nestes eventos. É na década de quarenta que também se conjectura sobre a construção de uma pista de Remo na Cruz Quebrada, em Lisboa, na Barragem do Ermal, em Braga ou na Pateira de Fermentelos, em Aveiro, desenrolando-se uma acesa discussão sobre o melhor local.
Os anos sessenta destacaram-se pelo início da competição dos Jogos Luso Brasileiros e em 1966 foram criados os escalões etários para os mais jovens, como categoria de remadores.
A partir de 25 de Abril de 1974, dá-se início a uma nova etapa no desenvolvimento do Remo desportivo, pautada pelos princípios de democratização do desporto, definidos na política estatal da época, tendo em vista a massificação da modalidade. No âmbito desta política, a Direcção Geral dos Desportos, implementa Planos de Desenvolvimento da Modalidade. Em 1976, inicia-se o processo de formação de treinadores, sistematizados em vários graus. É estabelecido um intercâmbio com a Polónia com a vinda da equipa olímpica polaca durante todo o mês de Fevereiro, tendo, no âmbito do mesmo, sido dada formação a um elevado número de técnicos nacionais. Paralelamente, assiste-se à criação de Escolas de Remo da DGD por todo o país.
Nos anos 80, a ANL introduziu a variante de Remo Indoor em Portugal organizando, em 1992, o primeiro Campeonato Nacional de Remo Indoor que conta com um elevado número de participantes.
Em 1985, realiza-se o primeiro Congresso de Remo, na Figueira da Foz onde, pela primeira vez, se reúnem todos os agentes desportivos que participam na vida da modalidade, tendo-se debatido amplamente os problemas do Remo. No ano seguinte o Remo passa a integrar as modalidades com planos de Alta Competição que a Direcção Geral dos Desportos apoia.
Após esporádicas presenças em 1962 e 1982, Portugal inicia, em 1986, a sua participação regular e sistemática em campeonatos do mundo de remo com uma presença em Inglaterra. Dois anos depois, Henrique Baixinho, skiffista peso ligeiro, classifica-se em 4º lugar no Campeonato do Mundo de Milão.
Em 1985 disputa-se em Óbidos um Oxford – Cambridge em Shell de oito, numa pista já balizada, embora de forma rudimentar. Também neste ano são iniciados cursos de remo para cidadãos com deficiência.
Em 1989 são redigidos os novos estatutos e os treinadores criam a sua própria estrutura – o Conselho de Treinadores. A década de 90 é marcada pelo aumento de participações em competições no estrangeiro e pela obtenção dos resultados mais significativos na História do Remo nacional, destacando-se: A conquista, em 1990, da primeira medalha na Taça das Nações com uma tripulação feminina em double-skull. No ano seguinte, novamente uma tripulação feminina conquista mais uma medalha na Taça das Nações, uma medalha nas regatas internacionais de Lucerna e atinge a final A no Campeonato do Mundo; Em 1994, a conquista da primeira medalha num campeonato do mundo com uma tripulação de quadri - skull peso ligeiro. Em 1999, uma tripulação de double-skull masculino, Artur Antunes e Bruno Mascarenhas, conquista o seu primeiro título Mundial, no Campeonato do Mundo de Juniores em Plovdiv, Bulgária. A publicação de legislação sobre o regime jurídico das federações, em 1993, implica que estas alterem os seus estatutos para poderem ser consideradas de utilidade pública desportiva. Em Lisboa realiza-se a Conferência Anual FISA de Treinadores com a presença de técnicos de todo o mundo. Em 1997 tem início o plano de apetrechamento dos clubes, apoiado pela Federação, que viria a contemplar mais de 100 embarcações, dezenas de ergómetros e centenas de remos. Três anos mais tarde, cinco árbitros portugueses obtêm a licença internacional e, quatro deles, passam a partir desta data a marcar presença nas grandes regatas internacionais, incluindo campeonatos do mundo. José Nunes é eleito Presidente da Comissão do Remo Adaptado, sendo o primeiro português a ter assento nas estruturas executivas da Federação Internacional, devendo-se ao seu excelente desempenho nesse cargo, a participação do Remo Adaptado, pela 1ª vez nos jogos olímpicos em Pequim. Em 2002, depois de um processo iniciado em 1997, é inaugurada a pista de Montemor – O – Velho, obedecendo o seu projecto às especificações da FISA para pistas internacionais. Em 2003, e depois de uma primeira participação no ano anterior, uma tripulação de Remo Adaptado de Soure conquista a primeira medalha num campeonato do mundo. A prática desportiva do Remo tem-se diversificado nos últimos tempos e encontramos hoje também nos planos de actividade federativos além da competição o Remo Indoor, o Remo de Mar, o Remo Adaptado e o Remo de Turismo. A conquista do primeiro título mundial da sua história, em 1999, a organização do Congresso Extraordinário da FISA na cidade do Porto em 2001, com a presença de 200 delegados de 60 países, e a realização em Montemor – O – Velho, em Agosto de 2002, da Coupe de la Jeunesse, competição onde estiveram presentes 400 participantes de 10 países europeus, deram à Federação e ao País, uma visibilidade exterior impensável poucos anos atrás, o que originou através de um grande empenho da Federação Portuguesa do Remo e do Governo, a conquista da organização do Campeonato da Europa de 2010 ao fim de 86 anos, o que motivou, até um castigo a Portugal pela FISA, devido ao facto de em 1924 e 1954 os Governos de então não terem apoiado a organização do evento já destinada a Portugal. Em 2004 Carlos Henriques e André Correia presidentes do CNL e ANL organizaram a regata comemorativa do Centenário da Taça Lisboa no mesmo local da 1ª prova e um Jantar no Museu de Marinha. Nessa regata o Náutico de Viana vence o Troféu Centenário, um Jarrão oferecido propositadamente pela Vista Alegre. A prova foi um sucesso de participação a nível de clubes e um record de espectadores nas provas organizadas em Lisboa. Esta Regata serviu de ensaio para a Regata comemorativa dos 150 Anos da ANL.
Encerrando as comemorações dos 150 anos da ANL, a Lisboa Classic Regatta teve nesse ano como ponto alto uma inédita disputa entre as Universidades de Oxford e Cambridge.
Em 2005, a mítica Universidade de Cambridge esteve pela primeira vez em Lisboa, e foi derrotada pela Selecção de Lisboa, numa regata inédita em Yolle de 8. Este desaire não deixou de causar alguma surpresa, já que a equipa inglesa disputa anualmente com Oxford uma das mais conceituadas regatas a nível mundial.
Voltaram-se a efectuar estas provas em 2007 e 2008 sempre com um grande êxito e com a chancela do Comodoro da ANL André Correia.
Depois de algumas provas de selecção atribuladas, querelas dos treinadores da selecção com o treinador do Sport Clube do Porto e com o treinador particular dos atletas Pedro Fraga e Nuno Mendes, a tripulação de Double-Skull Peso Ligeiro conseguiu o apuramento para os Jogos Olímpicos de Pequim e teve uma excelente prestação conseguindo chegar às Meias-Finais ficando em 8º na Geral, melhor só a equipa do Galitos de Aveiro uns anos antes.
Nos Jogos Paralímpicos tivemos a participação de Filomena Franco.
A Federação Portuguesa do Remo participou activamente na fundação do Comité Paralímpico de Portugal e Carlos Henriques é eleito para a sua Comissão Executiva em representação do Remo português. O Remo Adaptado está em franco desenvolvimento em Portugal, com aumento do número de atletas e participação internacional nos Jogos Paralímpicos e Global Games, contando já com medalhas nos campeonatos do Mundo da Modalidade.
Em Avis, local privilegiado, para o treino do Remo dos clubes do Distrito de Lisboa e Setúbal, um antigo atleta internacional, Luís Teixeira desenvolveu um projecto meritório – Avizaqua – onde existe um centro de estágio, com um Hotel, Restaurante, Ginásio e Piscina, entre outras comodidades num ambiente de treino fantástico, que segundo ele: “o edifício é inspirado numa folha e na sua queda no solo transformando-se num elemento orgânico que acompanha as curvas de nível do terreno sem danificar a estrutura arbórea existente.”
Numa Pista de Remo totalmente renovada, Montemor foi palco em 2010 do Campeonato da Europa de Remo, organizado pela FPR, avançando também a construção dos Centros de Alto de Rendimento de Montemor e do Pocinho, locais que irão permitir um aumento da qualidade de treino aos atletas da Selecção Nacional. Nesta Regata Pedro Fraga e Nuno Mendes sagraram-se Vice Campeões da Europa em double-skull Peso Ligeiro.
A paralímpica portuguesa Filomena Franco conquistou a medalha de bronze na prova de Skiff (AS) dos Campeonatos do Mundo de remo, que decorreram no lago Karapiro, na Nova Zelândia."A prova correu muito bem, apesar do vento, que obrigou a um controlo muito grande do barco", disse Filomena Franco, uma atleta paraplégica, em declarações à Agência Lusa.
Filomena Franco, que terminou a prova de 1000 metros em 07.37,36 minutos atrás da brasileira Cláudia Santos (06.47,60) e da francesa Nathalie Benoit (06.43,18), lembrou que o seu grau de lesão "é bastante maior do que os das duas primeiras classificadas". 
Depois de ter estado em Pequim2008 por convite, no ano que marcou a estreia do remo nos Jogos Paralímpicos, Filomena Franco garantia que agora sonha com uma presença em Londres 2012. "Estou no caminho certo, corri com as melhores do Mundo. Quero chegar mais longe, sei que tenho muito que trabalhar, mas quero estar em Londres", referiu. Nos Jogos de Pequim 2008, Filomena Franco ficou em 11.º lugar na final B, tendo então admitido que o seu objectivo "era chegar ao fim".
Nos Jogos Olímpicos de 2012 em Londres a dupla de Peso Ligeiro Pedro Fraga – Nuno Mendes conseguiram uma prestação espetacular, apurando-se para a Final A onde conseguiram um extraordinário 5º lugar. Ainda neste ano, em Varese – Itália, esta dupla voltou a ficar em segundo lugar nos Campeonatos da Europa.
Filomena Franco conseguiu também participar nos Jogos Paralímpicos de Londres.
Em 2013 Pedro Fraga venceu duas provas da Taça do Mundo em Skiff Peso Ligeiro (Lucern e Eton Dorney) tornando-se o primeiro português a alcançar este feito, sagrando-se ainda Vice-campeão da Europa nos Europeus de Sevilha. No Campeonato do Mundo desse ano, na Coreia igualou a prestação de Henrique Baixinho, em 1988 e obteve o 4º lugar em Skiff Peso Ligeiro.
No ano seguinte em Belgrado, mais um feito para este atleta, em Belgrado na Sérvia subiu ao mais alto degrau da prova e sagrou-se Campeão da Europa em Skiff peso ligeiro.